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11 março 2024

Brasil pode estar próximo de adquirir um sistema de artilharia antiaérea de média altitude. Embraer no negócio?

Sistema AKASH SAM

Por LRCA Defense Consulting

Em termos de Artilharia Antiaérea, a situação do Brasil é, para dizer o mínimo, muito preocupante, pois as Forças Armadas não possuem nenhuma arma terrestre ou naval que possa fazer frente a ameaças aéreas que operem em média altitude (entre 3.000 e 15.000 metros) ou mais, o que significa que todo o trabalho teria que ser feito pelos caças Gripen e F5. Apenas como ilustração, os caças Sukhoi Su-30 e F-16 A/B venezuelanos, assim como os F-16 chilenos (e, talvez, os futuros F-16 argentinos) e até os IAI Kfir colombianos têm teto de emprego superior a 15.000 metros de altitude.

Evidentemente, as preocupações nesse sentido não são novas e já houve delegações do Exército visitando diversos países e fabricantes à procura de sistemas antiaéreos de média altitude. Suécia, em 2019; Índia e China, em 2023; são apenas três exemplos.

Felizmente, uma parcela dessa lacuna em nossa defesa antiaérea poderá mudar em breve, caso as negociações em curso evoluam positivamente.

Índia: a hipótese mais promissora

Dos três países citados, acredita-se que seja com a Índia que o Brasil tenha maiores chances de fazer negócio.

Em fevereiro de 2023, a Embraer apresentou o C-390 como sua oferta para os requisitos de aeronaves de transporte médio (MTA) da Força Aérea Indiana (IAF) para uma aquisição entre 40 e 80 aeronaves. O C-390 é uma moderníssima plataforma multitarefa que atende plenamente os requisitos estabelecidos pela Índia para o MTA; além disso, pode desempenhar o papel de um avião-tanque de reabastecimento militar. Na época, a imprensa indiana especulou que a Embraer teria se oferecido para construir a aeronave completamente na Índia, podendo ainda construir os jatos da série E2 nesse país, caso a IAF viesse a adquirir o C-390.


Do final de agosto ao início de setembro de 2023, o Comandante do Exército Brasileiro, General Tomás Miguel Ribeiro Paiva, acompanhado por uma delegação oficial, esteve em visita de seis dias à Índia, naquela que foi a primeira vez que um Comandante do Exército Brasileiro viajou a esse país. Esta visita antecedeu a Cúpula do G20 onde o Presidente do Brasil participou e assumiu cerimonialmente a presidência do G20.

O General Tomás se encontrou com o chefe do Estado-Maior da Defesa da Índia, General Anil Chauhan, e com o secretário da Defesa. A comitiva brasileira também visitou os campos de tiro de Pokhran e testemunhou uma série de sistemas indianos em operação, que supostamente levaram ao interesse do Brasil pelo sistema AKASH SAM (Surface-to-Air Missile), projetado e desenvolvido de forma autóctone pela Organização de Pesquisa e Desenvolvimento de Defesa (DRDO) e fabricado pela Bharat Electronics Limited (BEL) e pela Bharat Dynamics Limited (BDL).

A comitiva também demonstrou interesse pela plataforma WhAP Armored (Wheeled Armored Protection - plataforma blindada anfíbia sobre rodas 8x8 para transporte de pessoal e outras missões), desenvolvida em conjunto com a DRDO e fabricado pela Tata Advanced Systems Limited.

De maneira simplificada, o AKASH é um sistema de mísseis superfície-ar de curto alcance para proteger áreas e pontos vulneráveis ​​​​de ataques aéreos. O Akash Weapon System (AWS) pode atacar simultaneamente vários alvos no modo de grupo ou no modo autônomo e possui recursos integrados de contramedidas eletrônicas (ECCM). Todo o sistema de armas foi configurado em plataformas móveis. Sua faixa de operação é de 4,5 km a 25 km e a altitude de operação é de 100m até 20km.

A WhAP 8x8 (Plataforma Anfíbia Blindada com Rodas) possui várias variantes, como viatura blindada de combate, viatura CBRN (química, biológica, radiológica e nuclear), viatura de reconhecimento e suporte, viatura de evacuação médica, viatura de engenharia, viatura porta-morteiro, viatura de comando e viatura de mísseis guiados antitanque.

A delegação visitou ainda as instalações da Hindustan Aeronautics em Bengaluru e manteve discussões sobre a construção de cadeias de abastecimento comuns e produção complementar que podem ajudar ambas as nações a evitar futuros embargos comerciais.

Dessa visita, supõe-se que Índia e o Brasil poderiam estar considerando um acordo quid pro quo, onde a Índia compraria o C-390 em troca de o Brasil adquirir o sistema de mísseis antiaéreos AKASH SAM e/ou a plataforma WhAP 8x8 e/ou até mesmo helicópteros indianos.

Em 29/09/2023, os portais indianos de notícias Indian Defence Research Wing e Republic World divulgaram que o Chefe do Estado-Maior do Exército Brasileiro, General Fernando José Santana Soares e Silva, teria revelado que o Brasil estaria interessado em adquirir o sistema de defesa aérea de média altitude AKASH desenvolvido e produzido na Índia. No entanto, esse interesse estaria acompanhado de uma proposta única: um acordo de permuta, onde o Brasil estaria disposto a adquirir o sistema se a Índia concordasse em comprar aeronaves da Embraer.

Os portais destacaram que esta proposta manifestaria a vontade do Brasil de explorar colaborações de defesa mutuamente benéficas com a Índia, aproveitando a sua vasta experiência na fabricação de aeronaves, particularmente com a Embraer. O potencial intercâmbio poderia melhorar as capacidades de defesa de ambos os países, ao mesmo tempo que promoveria laços bilaterais mais fortes.

Vale voltar a lembrar aqui que o Exército Brasileiro até o momento não opera nenhum sistema SAM de média altitude e, caso o Brasil compre o AKASH, ele facilmente se tornará a joia da coroa para as unidades de defesa antiaérea brasileiras. Pelo menos, até que o Brasil adquira ou desenvolva um sistema de médio/longo alcance e/ou de alta altitude.

AKASH SAM

Nova comitiva militar brasileira na Índia

Em Portaria de 21 de fevereiro último, o Comandante do Exército designou quatro militares para participar do "Intercâmbio Multidisciplinar de Cooperação na Área de Produtos de Defesa, entre o Exército Brasileiro e Empresas da Base Industrial de Defesa da República da Índia, nas cidades de Nova Delhi, Bengaluru, Hyderabad, Pune e Agra, na República da Índia, no período de 14 a 26 de março de 2024".

São eles:

  • General de Brigada Marcelo Rocha Lima, do Estado-Maior do Exército (EME), Chefe do Escritório de Projetos do Exército;
  • Coronel R/1 de Artilharia Márcio Faccin de Alencar, do EME: Especialista em Artilharia Antiaérea pela Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea e ex-comandante do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea; em 2019, realizou visita técnica à Saab, fabricante do sistema de defesa aérea de média altura BAMSE, na cidade de Karlskoga, Suécia.
  • Coronel R/1 de Artilharia Cezar Carriel Benetti, do Comando da Artilharia Divisionária da 5ª Divisão de Exército; especialista em Diplomacia e Relações Internacionais;
  • Capitão de Infantaria Maicon Sousa Ávila Oviedo, do Centro de Instrução de Blindados, especialista na Viatura Blindada de Transporte de Pessoal M113 e na Viatura Blindada Especial Posto de Comando M577 A2.

O caráter eminentemente técnico da comitiva - caracterizado pela presença do Chefe do Escritório de Projetos do EB, de dois coronéis especialistas em Artilharia, sendo um em Antiaérea e outro em Relações Internacionais, e de um Capitão especialista em blindados de transporte de pessoal, todos em visita a "Empresas da Base Industrial de Defesa" da Índia - tende a indicar que o Exército, após um primeiro e vivo interesse demonstrado por seu Comandante, pretende aprofundar as negociações sobre o sistema de artilharia antiaérea de média altitude AKASH e, também, sobre a plataforma de viaturas blindadas anfíbias 8x8 WhAP Armored.

Caso o Brasil adquira o sistema AKASH, irá se tornar o segundo país do mundo a fazê-lo, haja vista que a Armênia receberá, nos próximos meses, a primeira leva exportada pela Índia, fato que marcará um novo e importante capítulo nas exportações de defesa do país asiático.

Indubitavelmente, a aquisição do sistema AKASH por um país do tamanho e da importância geopolítica do Brasil seria fundamental para a Índia firmar seu produto no mercado mundial de defesa, o que poderá levá-la a um grande esforço nesse sentido. Isso sem contar com o surpreendente interesse brasileiro pela plataforma de viaturas blindadas 8x8 WhAP Armored.

Kestrel WhAP Armored (Wheeled Armored Protection - plataforma blindada anfíbia sobre rodas 8x8 para transporte de pessoal e diversas outras missões)

O veículo 8×8 tem tripulação de duas pessoas e acomodações para até 10 soldados. É capaz de viajar a uma velocidade de 105 km/h em estrada e mantém alta mobilidade cross-country, com suspensões independentes e tração nas oito rodas.

E a Embraer?

O aumento do interesse do Exército Brasileiro nos sistemas indianos, além de poder fechar parcialmente a grande lacuna na defesa antiaérea brasileira de média altitude (caso o negócio seja concretizado), pode também assumir um significado bem mais amplo caso a aquisição do C-390 da Embraer pela Força Aérea Indiana esteja realmente no bojo das negociações.

É esperar para ver...

Um comentário:

  1. Sinceramente não acredito em nenhuma compra a curto e médio prazo , além disso, o Brasil precisaria, dado o tamanho continental do nosso país, possuir pelo menos 5 baterias completas, o que duvido muito esteja dentro do orçamento do EB, enfim, se conseguirem comprar 1 bateria será um milagre.

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