02 agosto 2021

Exército vai elevar mais 150 M113B para o padrão M113BR


Por Paulo Roberto Bastos Jr.*

No Boletim do Exército nº 30/2021, de 30 de julho, foi publicado o despacho decisório C Ex Nº 367 que autoriza a assinatura da carta de oferta e aceitação referente ao 8º Termo Aditivo (AMENDMENT 8) à linha de fornecimento BR-B-UUG (Letter Offer And Acceptance BR-B-UUG), para a recuperação e atualização de mais 150 viaturas blindadas de transporte de pessoal (VBTP) M113B para a versão M113BR (M113A2 MK.1), por meio do programa do programa Foreign Military Sales (FMS), do Governo dos Estados Unidos da América.

A solicitação deste processo foi feita pelo Comando Logístico do Exército (COLOG), por intermédio da Diretoria de Material (DMat), utilizando-se do acordo militar entre o Brasil e os Estados Unidos, assinado em 2 de junho de 2000.

Histórico do programa


Adquiridos em sucessivos lotes a partir do começo dos anos de 1960, e até meados da década seguinte, nada menos que 584 M113 foram recebidos pelo Exército Brasileiro (EB), que os distribuiu principalmente nos regimentos de cavalaria blindada (RCB), e nos batalhões de infantaria blindada (BIB). Embora existissem modelos mais modernos deste veículo naquela época, os comprados para o EB eram dos mais primitivos (também chamados de M113A0) e equipados com motor à gasolina.

Uma foto rara: o recebimento de um lote de M113 pelo 2º Regimento de Obuses 105, de Itu/SP, em 1972. Os blindados ainda tinham as marcações do US Army (Foto do acervo do capitão Sergio Rodrigues Gonzalez)

Em 1982, devido aos contínuos aumentos do preço do petróleo, a maioria dos veículos adotados pelo EB passaram a ser equipados com motor a diesel, incluindo os M113, que foram modernizados pela Moto Peças Transmissões S/A, recebendo o motor Mercedes OM-352A, de fabricação nacional, sendo renomeados como M113B.

Mesmo ganhando maior autonomia, com a exigência de ser equipado com um motor de fabricação nacional para facilitar a logística, não foi possível o uso de motor ideal, pois não havia um disponível. Isso comprometeu a agilidade do veículo, notadamente em condição “qualquer terreno” (QT). De qualquer modo, os M113B prestaram excelentes serviços à Força. Entretanto, depois de quase 30 anos passados, o índice de disponibilidade vinha caindo de forma acentuada.

Sua obsolescência ficou mais evidente com a introdução dos carros de combate (CC) Leopard 1BE (também chamados de Leopard 1A1) nos regimentos de carros de combate (RCC) e RCB, quando se verificou que os M113B não conseguiam acompanhar os CC numa força tarefa.

Com efeito, estava se passando da relação peso potência de 66,7 kg/CV, dos CC M41C Caxias, para os 49,8 kg/CV dos CC Leopard 1BE, enquanto que os M113B permaneciam com relação de 62,8 kg/CV.

Um M113B do 20º RCB, em 2008 (Foto de Hélio Higuchi)

Em 2003, algumas unidades do EB, começaram, de forma independente, a testar opções de modernização, desde a troca do motor por unidades mais possantes, até a troca de componentes da suspensão, porém carecendo de um estudo mais aprofundado, especialmente, da cadeia logística necessária para uma eventual modificação em série, o que acabou restringindo essas alterações a meras experiências.

Em janeiro de 2008, o EB publicou uma nova portaria contendo o Requisito Operacional Básico (ROB) para a modernização dos M113B. Este ROB contemplava principalmente a modernização na parte mecânica e de desempenho, capacitando o M113 a acompanhar os recém-adquiridos CC Leopard 1A5 em ambiente QT, e nada menos que 19 empresas apresentaram propostas. Dessas, a BAE Systems, que ofereceu um kit que elevaria o carro ao padrão M113A2 Mk.1 (M113BR), e utilizava a linha de crédito do programa FMS, venceu a concorrência para modernizar um lote inicial de 150 veículos no valor de US$ 41,9 milhões, sendo que os trabalhos seriam realizados no Parque Regional de Manutenção da 5ª Região Militar (PqRMnt/5), de Curitiba (PR). Esta fase foi concluída em dezembro de 2015.

Nesse mesmo período foi assinado com a Engemotors Veículos e Peças Ltda a recuperação de 208 M113B, que não seriam elevados ao padrão M113BR, mas que sairiam como novos de fábrica. Porém, com a falência da empresa, e com apenas um protótipo para avaliação concluído, os planos foram remanejados, tornando necessário modernizar um número adicional de M113B pelo PqRMnt/5.

Em meados de 2015, um novo contrato foi assinado com a BAE Systems, no valor de US$ 54,66 milhões, para a modernização de mais 236 veículos para o padrão BR. Este foi concluído em 2020.

Existia à época uma expectativa para que o restante da frota de M113B (198 carros) também passem pelo mesmo processo, e a assinatura desse novo contrato demonstra que isso deve se concluir. Além disso, a partir de 2015, o EB recebeu a doação (via FMS), de mais 12 M113A2 e 94 M577A2, versão posto de comando da família M113, que também poderão passar por um processo semelhante no futuro.

As ultimas VBPT M113BR, do segundo contrato da BAE Systems, foram entregues pelo PqRMnt/5 em 19 de agosto de 2020 (Foto do sub-tenente Emerson Strovonchowski)

FONTE: Tecnologia & Defesa

*Sobre o Autor: Paulo Roberto Bastos Jr.
Engenheiro de automação e Pesquisador militar, especialista em blindados e forças motomecanizadas da América Latina e Caribe.

Nota do Defesa Brasil Notícias: Matéria reproduzida com autorização do autor.

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